22.7.10
Completando a Notícia do Público de Hoje, 21-07-2010, sobre o Iminente Encerramento da Escola Secundária Afonso Domingues
O Público trazia hoje a notícia do iminente encerramento da Escola Secundária Afonso Domingues, estabelecimento centenário, que formou gerações de Técnicos, Profissionais de excelente formação, muitos dos quais fizeram carreiras de sucesso nas Empresas, na Administração Pública e Privada, como Investigadores, Engenheiros, Professores Universitários, etc., em variadíssimas funções úteis para o País, que, sem esta Escola, ficará certamente mais pobre, mais carecido de instrumentos de Formação Técnica e Profissional.
Quando se conhece o panorama geral dos estabelecimentos de ensino actuais, em que predominam pavilhões de pré-fabricados, edificações precárias, que ao cabo de poucos anos se acham degradados e com aspecto de velhos barracos, dói saber que a inconsciência governamental se apresta a destruir algo de sólido, digno e com provas dados ao longo de muitas décadas, atravessando regimes, modas e caprichos políticos.
Triste País que tais responsáveis alberga, fazendo a qualquer um descrer do seu futuro, não já a longo prazo, mas mesmo para os tempos mais próximos que se podem sombriamente entrever.
Se a infeliz decisão não puder ser travada, sofreremos todos as suas nefastas consequências.
Para compensar a escassa informação do jornal Público, vou transcrever aqui a Exposição que a Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, nome anterior da actual Escola Secundária Afonso Domingues, tem remetido a alguns órgãos da Comunicação Social, depois de o ter feito junto de órgãos de soberania do Estado Português, até ao presente sem resultado, na esperança de que o assunto seja conhecido, averiguado, esclarecido e, finalmente, que tal possa levar a uma derradeira tomada de consciência que permita a anulação da tão despropositada decisão da extinção da Escola.
Nesta convicção, aqui publicito a digna diligência da meritória Associação Cívica :
EXPOSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA INDUSTRIAL AFONSO DOMINGUES ( AAAEIAD ) :
A Direcção da Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues (AAAEIAD), consciente da sua missão, defensora do valioso património histórico-cultural da velha e reputada Instituição a que deve a sua origem, vem junto de V. Exas., expor uma situação que gravemente a preocupa, relacionada com o futuro da Escola Secundária Afonso Domingues, nome actual da Escola legítima sucessora daquela Instituição, para o que solicita de V. Exas., como dignos representantes da opinião pública esclarecida do País, a devida atenção e o correspondente auxílio na divulgação da causa adiante explicitada.
A Direcção da Escola Secundária Afonso Domingues informou-nos recentemente ter recebido uma notificação do Director Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DRELVT), segundo a qual, o Projecto de Construção da futura Ponte sobre o Tejo, a sua denominada 3.ª travessia, irá interferir com a área de implantação da Escola, dado esta se situar dentro do perímetro das obras deste empreendimento, circunstância que alegadamente colocaria em causa a sobrevivência da Escola.
O Despacho de 23 de Março do Sr. Secretário de Estado da Educação, recebido na Escola, em 28 de Abril, com a notificação, pretende apresentar como facto consumado a decisão de extinguir a Escola, achando-se esta assim perigosamente ameaçada na sua existência, apesar de ser uma das mais antigas e prestigiadas escolas do Ensino Técnico e Profissional do País.
Ocorre a sombria ameaça justamente no ano em que a Escola completa os seus mui respeitáveis 126 anos de idade, contados desde a sua primitiva localização, na Calçada do Grilo, para mais tarde se radicar, em edifício próprio, na Quinta das Veigas, em Marvila, no ano de 1956, onde ainda hoje se mantém.
Ao longo deste dilatado período de tempo, prestou a Escola relevantes serviços ao País, traduzidos na formação de profissionais qualificados, nomeadamente, de Técnicos Especializados em múltiplas áreas profissionais, de Engenheiros de diversas especialidades, ligados a funções produtivas, laboratoriais, de projecto e de administração de empresas, incluindo, por ulteriores descobertas de vocação, membros de outras profissões de equivalente relevância social, como as de Juristas, Médicos, Professores dos vários graus de Ensino, incluindo o universitário, Investigadores e até de Escritores, em que avulta o excepcional caso do único prémio Nobel da Literatura, em Língua Portuguesa, atribuído pela Academia Sueca, em 1998, a José Saramago, igualmente seu ex-aluno, factos que não podem os seus antigos alunos deixar omissos, nem, por isso mesmo, permanecer indiferentes ou resignados ante tão inquietante intenção oficial.
Neste contexto, cumpre-nos até assinalar a aparente contradição de tal intenção com as repetidas afirmações do Sr. Primeiro-Ministro José Sócrates que, em várias ocasiões, se tem referido à importância das Escolas deste tipo, bem como à necessidade de revalorizar o Ensino Técnico e Profissional, em geral, numa era de acentuada evolução tecnológica, contexto em que estas Escolas poderão dar forte contributo, desempenhando papel de relevo no objectivo oficialmente fixado que é o do aumento da qualificação técnico-científica dos Portugueses, tão decisiva no futuro, quanto esta qualificação se revela notoriamente insuficiente na actualidade.
Deve relembrar-se que a Escola Secundária Afonso Domingues é portadora de um longo e rico historial, para o qual trabalharam gerações sucessivas de Docentes, Discentes e funcionários.
Entre o seu Corpo Docente histórico, contam-se nomes ilustres, de que se destaca, naturalmente, o de José Pedro Machado, seu Professor insigne, temporariamente Director em Exercício, acumulando funções, Académico de Mérito da Academia Portuguesa da História, Lexicógrafo e Filólogo de prestígio nacional e internacional, membro de diversas Instituições Científicas e Culturais, em Portugal e no Estrangeiro, distinguido com vários títulos e condecorações, entre as quais avultam a de Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública, em 1996, a da Medalha de Mérito Cultural, outorgada pelo Ministério da Cultura Português, em 1999 e a última, atribuída em 2007, pelo actual Sr. Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a título póstumo, por iniciativa da nossa Associação que submeteu a respectiva proposição à Chancelaria das Ordens Honoríficas, a de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, prémio cimeiro de reconhecimento por tanto labor cumulativamente despendido em favor desta Escola, de milhares de estudantes que profissional e civicamente nela se formaram e da Língua e Cultura Portuguesas, cujo património significativamente engrandeceu.
Outros nomes conceituados de Professores aqui leccionaram como Poole da Costa, Sousa Monteiro, Roseira Abrunhosa, Matias Filipe, Carmen Falcão, Mesquita Spranger, Belarmino Barata, Almeida e Brito, entre muitos mais que igualmente contribuíram para elevar a reputação da Escola.
Para além de todos os seus valores patrimoniais culturais, conserva a Escola em si um apreciável património de bens e de infra-estruturas, dispondo de valências importantes em quase todas as áreas úteis para o Ensino, particularmente o do ramo Técnico-Profissional, bem como para actividades circum-escolares, nomeadamente as de educação física, desportivas e de recreio.
A Escola actual construída, como referido, em 1956, possui no seu activo um conjunto sólido de edifícios, concebidos de raiz, em que se distingue o seu edifício principal, de três andares, contendo largo e nobre átrio de entrada, dotado de amplas Salas de Aula, Secretaria e Sala de Docentes espaçosas, com Laboratórios apetrechados para as aulas práticas das disciplinas de Ciências Naturais e Físico-Químicas, Salas de Informática, Gabinete de Associação de Pais, Salas de Directores de Turma e de Recepção de Encarregados de Educação, a que segue a Reprografia/Papelaria e o Bar/Café para toda a comunidade escolar, a que se liga extensa ala com o seu Parque Oficinal, onde funcionaram os antigos cursos de Formação de Carpintaria, Serralharia Mecânica e de Montadores Electricistas e onde, hoje, com adaptações, funcionam duas Oficinas de Electrónica, duas de Electrotecnia, um Laboratório de Metrologia, outro de Mecânica Teórica, outro de Máquinas Eléctricas e mais três Laboratórios de Electrotecnia/Electrónica e vários armazéns, além de Salas de Aula, de Informática e de Convívio de Alunos e outras dependências em que se ministram hoje os novos Cursos Profissionais de Electricidade, Electrónica, Informática e de Computadores.
Dispõe ainda a Escola de outro edifício sólido e amplo onde funcionam, no rés-do-chão, um desafogado Refeitório para alunos e funcionários, Sala de Convívio de Alunos, Instalações Sanitárias, Sala de Ténis de Mesa e Musculação, balneários de apoio ao Campo de Ténis e, no primeiro andar, um Ginásio de adequadas dimensões para a prática de disciplinas de Educação Física e Desportivas, balneários adstritos, bem como Gabinetes de Educação Física e de Orientação Escolar e Profissional.
Em áreas circundantes a este último edifício, estão localizados campos de jogos, igualmente bem adequados à prática desportiva ou da ginástica ao ar livre e um amplo parque de estacionamento automóvel. A tudo isto, acresce a existência de uma significativa área arborizada e ajardinada envolvente, o que torna esta Escola, em si mesma, um conjunto de apreciável valor arquitectónico e funcional, cujo património cumpre valorizar e preservar.
No âmbito sócio-cultural, deve ainda ter-se em consideração que a Escola, inserida no seu meio actual, funciona com uma espécie de âncora social de relevante efeito coesivo, dado situar-se numa área envolvente bastante deprimida, de profundas carências sócio-económico-culturais, como decerto o reconhecerão os executivos autárquicos das freguesias vizinhas, condições que inevitavelmente se agravariam, acaso a Escola dali desaparecesse. Sabe-se também que o Projecto da 3.ª travessia do Tejo se encontra temporariamente suspenso e, nas presentes condições financeiras do País, de imperiosa contenção orçamental, poderá sofrer sucessivos adiamentos, quiçá vir a ser abandonado. Na última reunião geral da Associação de Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, realizada, nas instalações da ESAD, em 22 de Maio pp, foi também aprovada uma Moção que manifesta o desejo da continuação da Escola, bem como sublinha a sua alta relevância no debilitado contexto do Ensino Técnico e Profissional nacional.
Todos os argumentos que oficialmente têm sido invocados para justificar o encerramento da Escola nos parecem frágeis, i.e., pouco convincentes e naturalmente susceptíveis de contestação.
Resumimos, por isso, em seguida, os argumentos já esboçados que directa ou indirectamente chegaram ao nosso conhecimento e acrescentamos outros, em reforço dos já antes expressos, como destacado testemunho do nosso empenho na luta pela sobrevivência da Escola :
1 – Número escasso de Alunos : a Escola Afonso Domingues tem tido nos últimos anos um número de alunos semelhante e até superior ao das suas congéneres : Marquês de Pombal e Fonseca Benevides;
2 – Eventual obstrução à construção da nova ponte sobre o Tejo : como já referido, o Projecto da nova travessia encontra-se suspenso e, na presente conjuntura de dificuldades financeiras, tal projecto não se vislumbra exequível nos anos mais próximos, nem de resto, cremos que a Escola oferecesse real obstrução ao mesmo, sendo sempre tecnicamente possível contornar a área adstrita à Escola, no seu todo ou pelo menos em parte;
3 – Reorganização da Rede Escolar : depois da suspensão oficial do Projecto da nova ponte sobre o Tejo, a Escola Secundária Afonso Domingues viu-se confrontada com novo motivo para a sua iminente extinção, que, desta feita, resultaria da necessidade de levar a cabo mais uma reorganização da rede escolar, argumento mais que frágil, por vago, indefinido, que poderia também ser invocado para eliminar qualquer outra escola ou sustentar qualquer outra medida administrativa do Ministério da Educação.
4 – A distribuição dos seus actuais alunos por Escolas situadas na sua vizinhança não nos parece possível, dada a especificidade dos Cursos ministrados na Afonso Domingues, havendo até um dos Cursos que só nesta Escola existe;
5 – Preservação de Património : tal como já previsto para os edifícios de interesse histórico situados nas proximidades da Escola, a seguir enumerados :
1- Convento da Madre de Deus
2- Palácio dos Marqueses de Nisa / Paço de Xabregas
3- Convento de S. Francisco de Xabregas
4- Palácio dos Melo da Cunha / Palácio de Xabregas
5- Quinta do Grilo / Quinta Leite de Sousa
6- Igreja e Convento do Grilo
7- Palácio dos Duques de Lafões
8- Igreja e Convento do Beato
9- Companhia de Moagem Portugal e Colónias
10- Palácio da Mitra
11- Palácio dos Senhores das Ilhas Desertas
deverá também o edifício da Escola Secundária Afonso Domingues ser incluído no conjunto do Património local : histórico, arquitectural e cultural a preservar.
Cabe aqui mesmo perguntar : se todos estes edifícios foram poupados, por que razão a Escola Secundária Afonso Domingues terá de ser destruída ?
6 – A Escola Afonso Domingues não deve ser utilizada para quaisquer outros fins que não aqueles para os quais ela foi criada, ou seja, para o Ensino Público Técnico e Profissional, de que o País tanto carece, como, de resto, por diversas vezes, o actual Primeiro-Ministro tem publicamente reconhecido e afirmado;
7 – A Escola, para além de todo o seu digno historial, em parte já brevemente aludido neste documento, ostenta um nome ilustre da nossa memória colectiva, Afonso Domingues, Mestre incontestável da obra que celebrou a vitória dos Portugueses sobre os Castelhanos nos campos de Aljubarrota em 1385 e que veio a ser o Mosteiro da Batalha, jóia rara da nossa arquitectura, património inestimável do País, orgulho de todos os Portugueses, factos que devem continuar a ser rememorados, nomeadamente, pela preservação da presente Escola, aqui alvo privilegiado da nossa atenção.
Que possamos ainda vir a dizer, tal como o nosso mui competente e denodado Mestre Afonso Domingues o garantiu, sentado, sozinho, durante três dias, como reza a História, sob a magnífica abóbada do belo e imponente Mosteiro : A Escola não caiu, a Escola não cairá !
Reiteramos, por conseguinte, o nosso apelo para que a presente exposição obtenha a maior divulgação possível junto da opinião pública, ampliando, desta forma, os esforços de todos os Professores, Empregados, Alunos, Encarregados de Educação e demais amigos da actual Escola Secundária Afonso Domingues em luta pela sua sobrevivência, no quadro do nosso já depauperado universo de estabelecimentos do Ensino Técnico e Profissional, de que a ESAD é importantíssimo instrumento de afirmação.
Lisboa, 15 de Julho de 2010
A Direcção da Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, com sítio na Internet em www.aaaeiad.com
Fim da Exposição da AAAEIAD
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Dê-se, então, a maior divulgação possível à presente Exposição.
AV_Lisboa, 21 de Julho de 2010
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Andei entre 1981 e 1987, nesta maravilhosa escola... foram tempos que nunca esquecerei e amigos que fiz na altura, que ainda hoje, fazem parte da minha vida.. Entrei com 14 anos.. como lamento a decisão do seu encerramento... haverá necessidade de se destruir algo que está tão bom para dar lugar a coisas novas? É UM CRIME DEMOLIR-SE UM EDIFÍCIO DAQUELES, para mais ainda, em tempos de crise como o País vive... só mesmo os nossos politivos para tomarem decisões destas... Seria tão bom um milagre!...
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